As crianças e o “não”

Muita confusão foi criada na cabeça dos pais por especialistas que advogavam a favor de não reprimir a criança, de não dizer NÃO a ela. Alguns chegaram a afirmar que o NÃO seria causa de sérios transtornos de personalidade, verdadeiros “traumas”.

Foram feitos até cálculos de quanto NÃOS a criança escuta em seus primeiros anos de vida.

Os pais começaram a achar que tudo o que eles faziam estava errado, e que deveriam aprender a criar seus filhos com os especialistas. Estes pais compraram livros, frequentaram cursos e palestras e se tornaram pais inseguros, desses que precisam ler no livro antes de responder algo para o filho.

E então a avó vinha visitar o neto e achava um absurdo não permitirem que ela lhe desse um pouco de sua sopa de feijão, pois os livros diziam que não era saudável para a criança. Indignada, ela se lembrava de que criara doze filhos com aquela sopa, todos saudáveis. Entristecida, a avó constatava que o seu saber não tinha mais valor algum, uma vez que ela não era uma especialista que estudou nos livros, nas universidades. Ela mesma já não tinha muita certeza se havia procedido de forma correta ao criar seus doze filhos…

Gostaríamos de tranqüilizar os pais que porventura ainda estejam sob o efeito dessa “corrente contra o não” dizendo-lhes que todo comportamento é adequado num determinado contexto, e no caso do NÃO , não é diferente.

O uso do NÃO muitas vezes está relacionado à necessidade de colocar limites ao comportamento da criança. Em outras palavras, se você não disser NÃO ao seu filho com medo de traumatizá-lo, o mundo se encarregará disso, mais cedo ou mais tarde. Se você não disser ao seu filho para NÃO agredir as pessoas, ele ouvirá esse NÃO mais tarde de outras formas: sendo excluído de grupos de amigos, envolvendo-se em brigas e confusões, etc.

Há um livro de uma famosa psicanalista em que ela relata como deixou seu filho se queimar na chapa do fogão, estando ela a seu lado, tudo para não lhe dizer NÃO, para deixar que ele tivesse suas próprias experiências, etc. Sinceramente, creio que é desnecessária e irresponsável esta conduta por parte de uma mãe.

Reflita: você deixaria seu filho grudado na tomada para que ele aprendesse que tomadas dão choques? Estamos na era da informação e podemos poupar tempo e todo esse transtorno. É para isso que serve a transmissão de conhecimentos de uma geração para outra. Há que se ter BOM-SENSO.

Agora, imagine uma mãe ao lado da filha que hoje, pela primeira vez em sua vida, resolveu pregar um botão. A mãe fica ansiosa, pois a menina ainda não tem muita habilidade. A mãe sim, é exímia costureira. Incomoda à mãe, que é assim tão prendada, ver um trabalho mal feito. Então ela começa: “NÃO é assim, está horrível, deixe que eu faço”. E depois de pronto o trabalho: “Veja como ficou bem melhor. Aprenda. É assim que se faz.” A filha diz: “Não sei o que seria de mim sem você, mamãe!” O que a filha aprendeu? Que a mãe é muito melhor que ela e também que será difícil (senão impossível) ser como ela?

Alguns pais precisam aprender a controlar sua ansiedade nestas horas. Porque há muita coisa que ele sabem muito bem, e que os filhos mal começaram a aprender. Alguns pais têm pressa e acabam atropelando as tentativas dos filhos. Ou então acham que o filho demora muito para aprender as coisas que lhes ensinam. Mas a questão é: Quanto é muito? E eles talvez respondessem: “Todos os outros filhos demoraram só X dias para aprender”, ou : “O filho da vizinha tem a mesma idade e aprendeu em X-1 dias!” Então aí está o problema: a normatização, a tentativa de enquadramento e classificação.

Quando os pais acham que o filho DEVERIA algo (DEVERIA aprender mais rápido, DEVERIA ter muitos amigos, DEVERIA ter boas notas na escola), estão dizendo mais ou menos o seguinte: “Meu filho, não gostamos de como você é. Se nós conseguirmos fazer com que você seja diferente, então poderemos amá-lo”. Ou então: “Todos da sua idade são X, como você ousa ser diferente sendo Y? Seja igual a todo o mundo!”

Admiro profundamente aqueles pais que conseguem conviver com as diferenças de seus filhos, respeitando-os e amando-os incondicionalmente por aquilo que eles são, sem o desejo de modificá-los e torná-los iguais a eles próprios, aos outros filhos, ao filho da vizinha, às pessoas da idade dele, etc..

Às vezes encontro professores muito preocupados com esta questão da uniformidade. Parece-me que alguns deles têm codificado em sua mente um padrão de qualidade, com características milimetricamente definidas, a partir do qual avaliam os alunos. O professor quer que TODOS sejam quietos, que TODOS falem baixo, que TODOS terminem a lição ao mesmo tempo, etc. Conheci uma classe em que todos os alunos tinham até a mesma letra que a professora. Certamente o professor tem os seus motivos. Mas não seria melhor centrar o objetivo no aluno?

O aluno não DEVERIA ser quieto, mas DEVERIA SER ELE MESMO, descobrindo suas capacidades, dons, talentos. O aluno não DEVERIA ser igual à maioria, ou igual ao “padrão de qualidade” adotado, ou igual ao próprio professor ( o que é comum: o professor desejar que o aluno seja o seu espelho), mas sim DEVERIA ter espaço para descobrir o mundo, para descobrir a si próprio, para definir qual será seu papel e participação no mundo e ser “sujeito da própria história” (emprestando aqui uma expressão de Paulo Freire). Só assim poderemos formar cidadãos criativos, que ao invés de se amoldarem às situações, de se acomodarem passivamente, promovam transformações, mudanças, progresso e desenvolvimento.

Desta forma, engana-se o professor que acha que cumpriu seu papel quando tem uma classe de alunos comportados, que jamais conversam durante a aula, que não saem da carteira, etc. Hoje podemos, graças à liberdade trazida pelos novos tempos e às novas descobertas, afirmar seguramente que uma classe que se comporta assim durante todo o tempo só pode ser constituída de autômatos. O que o professor conseguiu foi apenas uniformizar o comportamento de uma classe e torná-lo igual ao padrão que um dia lhe disseram que era adequado.

Mas adequado a quem? Ao aluno? Ao Professor? Ao país? E adequado do ponto de vista de quem? Sem dúvida, a um regime militar, ou à uma economia centrada no trabalho mecânico, repetitivo, a uniformidade é bastante conveniente, a maioria sendo treinada a receber ordens e uns poucos a pensar criativamente em alternativas. Já não é essa a realidade do país e os novos tempos requerem mudanças.

Nelly Beatriz M. P. Penteado é Psicóloga e Master Practitioner em Programação Neurolingüística (PNL)

mais artigos sobre PNL

 

Cursos Online | [+]


você pode gostar também

Comentários estão fechados.

Este site utiliza cookies para melhorar sua experiência. Ao navegar pelo site, presumimos que você aceita o seu uso, mas você pode desativá-lo se desejar. Aceitar Leia mais