Agenda oculta

Uma agenda oculta contém coisas que você sente e pensa em relação a uma pessoa mas não lhe diz, por vários motivos: ou para não perder a simpatia dela (e para que ela continue tendo uma boa imagem sua, e continue apoiando você), ou para não lhe dar a chance de rebater uma acusação sua, para ter um trunfo nas mãos contra ela, uma razão que diga que você está certo em não gostar dela (apesar de você nunca lhe dizer isso e nunca lhe dar a oportunidade de se modificar naquele aspecto).

Contém também intenções secretas que podem existir em seus comportamentos.

Entre marido e mulher, é muito comum que, ao longo dos anos, um deles (ou ambos) tenha uma agenda oculta, constituída de mágoas, sentimentos negativos que jamais são revelados, mas através dos quais travam-se batalhas silenciosas, inconscientes.

As agendas ocultas afastam as pessoas, porque geram insegurança naquele que percebe que o outro não está totalmente no relacionamento, está como que “com um pé atrás”.

Apesar de o conteúdo de uma agenda oculta não ser revelado, ele é pressentido, “intuído”, através da observação da comunicação não verbal do outro: seu tom de voz, seu olhar, seus gestos, sua expressão, etc. Esta comunicação não verbal provém do inconsciente de quem fala (de quem possui a agenda oculta) e é percebida e interpretada pelo inconsciente de quem a recebe. Quem a recebe sente insegurança, angústia, rejeição, medo ou ansiedade, mas não sabe explicar por quê, ou apenas tem uma vaga percepção de que o outro está experimentando algo que não está sendo expresso verbalmente.

É quando alguém pergunta: “O que você tem?”, e ouve: “Eu não tenho nada, estou ótimo”, dito num tom de voz ríspido. Ou : “O que eu fiz a você para que me tratasse de forma tão agressiva?”, e o outro diz: “Mas eu não fui agressivo…”, com uma expressão furiosa.

Por medo, o outro é obrigado a se proteger e a se afastar também. O relacionamento perde a espontaneidade, como se as pessoas estivessem sempre em guarda, envolvidas nele apenas pela metade.

Uma pessoa com uma agenda oculta suga muita energia da outra, que passa a lhe devotar maior atenção tentando saber o que se passa na cabeça dela. Além de consumir sua energia, faz com que o relacionamento se deteriore.

Como o marido que chegou em casa e encontrou a esposa com uma expressão angustiada. Na verdade, a esposa está se sentindo só, e talvez gostasse que o marido a convidasse para um passeio, mas não lhe diz isso justamente para que o marido fique lhe perguntando ansiosamente sobre o que está acontecendo. Ela se sente bem com a preocupação do marido e com a atenção que ele lhe dispensa (a energia que ele lhe dirige). Já o marido, acaba ficando desanimado, com pensamentos derrotistas, ou então fica se sentindo culpado pelo estado da esposa .

Ou então aquela pessoa que não esquece um incidente desagradável do passado, que guarda a mágoa como trunfo contra o outro. Ela não diz nada a respeito, mas sua expressão revela a mágoa. Isso pode gerar sentimentos de culpa no outro, que acaba sentindo necessidade constante de reparar o mal cometido, como se fosse uma dívida eterna.

O que se nota em relacionamentos deste tipo é que não existe troca, envolvimento. Um está querendo só receber, e à força, arrancando do outro o que quer, e não querendo lhe dar nada em retribuição.

É uma batalha inconsciente, em que quem perde a batalha perde também a energia investida por ambos, como num jogo.

Há muitas batalhas que são travadas inconscientemente, ou pelo menos, de forma subliminar, de forma velada.

Paulo começou em seu novo emprego há uma semana. Trabalha na mesma sala que Mário, que o trata com educação, mas nota que algo não está bem neste relacionamento. Paulo tem a impressão de que na verdade Mário não gosta muito dele. Percebe isso pelo seu tom de voz, pelo seu olhar. Paulo esteve comparando estes sinais que Mário apresenta quando está com ele, com os sinais que observa quando Mário se relaciona com outras pessoas. São muito diferentes. Paulo começa a perceber até uma certa hostilidade, uma competição. Entra no jogo e começa a tratar Mário como rival. Ele não diz e não demonstra isto abertamente, mas de forma indireta. Continua tratando Mário com aparente respeito e educação, mas no fundo ambos sabem que estão numa batalha. Há dias em que Paulo chega em casa esgotado, sem energia para fazer nada, com vontade de largar tudo e sumir. Ele não sabe, mas Mário sente as mesmas coisas.

Um outro exemplo: Sandra conhece Lúcia há alguns anos. Sandra é muito observadora e perspicaz e está sempre procurando as falhas e dificuldades das outras pessoas, como forma de ter poder sobre elas, de controlá-las. E em relação a Lúcia, percebeu que ela é insegura, tem necessidade de agradar as pessoas, não tem uma boa auto-imagem. Sandra usa isso que percebeu tratando Lúcia com indiferença, pois sabe que este é um comportamento que ela não é capaz de tolerar. Sempre que Lúcia a encontra, imediatamente começa a se sentir insegura, desagradável, e se esforça para se comportar da forma que imagina que iria agradar Sandra, que se mantém distante. E quanto mais ela se distancia, mais Lúcia se esforça para conquistá-la. Quando se despedem, Sandra se sente “superior”. Já Lúcia, está deprimida e esgotada.

Nestes dois exemplos, observamos como as pessoas acabam entrando nestas disputas, nestes jogos. Reflita: além da energia que é sugada do derrotado, o que mais se ganha?

Penso que no fundo esta necessidade de vencer e dominar sirva apenas e tão somente para diminuir a própria insegurança e impotência. Porque quando vence outro, o indivíduo se sente forte (energizado) e nega sua própria fraqueza.

Note que sempre que você trava uma batalha com alguém em sua cabeça, a outra pessoa pode perceber e entrar nela também. Porque existe uma comunicação inconsciente entre as pessoas, que é mediada pelos sinais não verbais (gestos, expressão, etc.).

Perceba como isto acontece no trânsito. Um motorista começa a tratar outro como se este fosse muito ruim ao volante, ou como se estivesse, por exemplo, andando devagar, ou na contra-mão, ou tentando ultrapassá-lo de propósito, só para irritá-lo, atrapalhá-lo. O outro motorista percebe e entra no jogo, sentindo raiva também, como quem diz: “Quem ele pensa que é? ” O resultado pode ser desastroso para ambos. O que ambos querem é impor ao outro: “Eu sou bom, eu estou certo, você não” e também “Saia do meu caminho, não me atrapalhe”.

Dentre as estratégias para lidar com situações como esta, você pode adotar a de não entrar no jogo.

Para perceber este tipo de jogo, observe como se sente. Quando perceber que está se sentindo sugado, cansado, “lutando”, que não se sente bem consigo mesmo, mude seu comportamento. Pare o que estava fazendo e mantenha-se tranquilo, recusando-se a tomar parte na disputa, na batalha, direcionando sua mente para outros estados internos, para outros sentimentos.

Melhor seria se todos nós aprendêssemos a nos relacionar com as pessoas de forma integral, transparente, com base naquilo que o outro realmente é, de forma que houvesse troca (de afeto, experiências, energia, etc.) e enriquecimento para ambos, ao invés de disputas em que se tenta extrair à força o que se deseja, ou nas quais se procura aniquilar o outro.

Nelly Beatriz M. P. Penteado é Psicóloga e Master Practitioner em Programação Neurolingüística (PNL).

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