O Preconceito de Treinar Comportamentos

É muito interessante escutar as pessoas dizerem que se elas agissem de uma determinada forma “não estariam sendo verdadeiras” ou “elas não estariam sendo elas mesmas”. Evoluir, mudar e se adaptar é talvez uma das poucas constantes na existência de um ser vivo. Desenvolver novos comportamentos, e quando digo “comportamentos” me refiro também a um novo modo de pensar sobre as pessoas e as situações, é um processo natural, e ir contra isso é o mesmo que ir contra a natureza.

Os mais recentes estudos científicos, e aqui estou com maior foco na teoria dos “5 grandes Fatores da Personalidade”, entendem personalidade como: biologia – traços – adaptações/características – cultura – comportamento.

Parte da biologia e dos traços vão influenciar as características e adaptações que também são influenciadas pela cultura, e essa dinâmica contribui para nossos comportamentos. Então concluímos que personalidade é formada por elementos, e alguns deles interagem de maneira dinâmica, algumas partes imutáveis (biologia e traços) e outras partes mutáveis (características, adaptações, cultura e comportamento).

Levando tudo isso em conta, hoje já podemos ver com mais clareza que comportamentos fazem parte da personalidade, que pode sim ser treinada e desenvolvida. A grande questão aqui, talvez até cultural, é certos aspectos do elemento comportamento da personalidade; para algumas pessoas carrega um certo ar “sagrado” ou um viés romântico que preza por um conceito de naturalidade mal elaborado.

Um bom exemplo é o grande Demóstenes (384-322 a.C.), que através de um treinamento criado por ele, desenvolveu a habilidade da oratória. Para isso Demóstenes precisou modificar seus comportamentos através de um rigoroso treino; conta a história que o orador raspou um dos lados da cabeça para não poder sair de casa e com isso praticar por mais tempo. Para potencializar a dicção Demóstenes colocava pequenas pedras na boca enquanto falava, que lembra um dos exercícios que vemos dado por um dos treinadores do Rei Jorge VI no filme “ O Discurso do Rei”. Fazia também parte da preparação de Demóstenes declamar em plena corrida. Observava-se demoradamente num grande espelho, ajustando sua postura corporal, para ver se sua expressão causava impacto. “Vem daí a reputação de não ter sido bem dotado pela natureza e só haver adquirido habilidade e força oratória pelo trabalho incansável”, escreveu Plutarco.

Como Coach, idolatro o esforço de Demóstenes em se aperfeiçoar em uma área tão importante como a comunicação. O grande filósofo não foi conformista em acreditar que não “estaria sendo ele mesmo” em desenvolver elementos tão básicos como falar, movimentar seu corpo, aprimorar a percepção que causava nas pessoas. A cultura do improviso é muito mal entendida pelo senso comum. Qualquer bom ator sabe que é preciso muito treino e repertório para poder, muito raramente, fazer algo de improviso.

Não devemos confundir preparação e treino com falta de naturalidade ou discursos prontos; se seu discurso ou sua postura não flui naturalmente, ou você não treinou o suficiente para se comportar de forma natural ou você esta treinando de forma errada.

As habilidades interpessoais são de demasiada importância para as deixarmos a cargo do salvador improviso ou do famoso “na hora damos um jeito”. Não vejo o porquê de não se dedicar de forma séria e disciplinada para se aperfeiçoar em habilidades interpessoais e agregar mais valor a sua Marca Pessoal. Hoje contamos com diversos estudos e dados confiáveis de pesquisas sérias dos elementos que criam um impacto mais positivo e de como os desenvolvemos, e de como ao menos minimizar os elementos que causam um impressão negativa.

As pessoas no trânsito devem me achar uma pessoa bastante esquisita, criei o hábito de treinar oratória no tempo que passo no trânsito, levo minha fiel ferramenta de treino no carro, uma rolha, coloco-a entre os dentes e canto minhas músicas preferidas para fortalecer e aprimorar minha dicção. Em consequência, treino me expor ao público; é preciso muita coragem para sair dirigindo e cantando com uma rolha entre os dentes, não é mesmo?

Mas sabe o que me vem à cabeça quando penso no constrangimento? É melhor me sentir um idiota agora do que ter uma fala cheia de ruídos quando me encontrar em eventos importantes. Ou, como o grande general George S. Patton dizia: “Quanto mais você suar no treinamento, menos irá sangrar na batalha”.

Já que dedicamos uma parte do nosso dia para treinar habilidades físicas como ir à academia ou praticar algum esporte, dedicamos nosso tempo em desenvolver repertório intelectual com leitura de jornais, revistas e livros e em cursos técnicos em nossas áreas de atuação profissional, por que deveríamos deixar ao mero acaso nossas habilidades interpessoais? Imagine a grande diferença que faria em sua vida você desenvolver habilidades que possam realçar seus pontos positivos?

Como Coach, acredito nesse tipo de treinamento, e passo diversas técnicas e ferramentas para ajudar meus Coachees a aprimorar e potencializar esse tipo de habilidade.

Talvez existam alguns tipos de habilidades que não podemos treinar, porém as habilidades interpessoais são sim treináveis e fazem toda a diferença se você quiser ir mais longe em sua vida.

Erick Cicuto: Coach especializado em Neurociência e Psicologia Aplicada, Cofundador da Cicuto Coach, empresa associada construção de treinamentos sob medida para seus Coachees com rigoroso embasamento nas mais recentes e eficientes descobertas cientificas no desenvolvimento Cognitivo e Comportamental.
www.cicutocoach.com.br / contato@cicutocoach.com.br

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