O Marketing Pessoal e as relações amorosas

Muitos executivos para os quais faço o desenvolvimento de metas e resultados a partir do processo de coaching em Marketing são literalmente falidos em seus relacionamentos. As executivas não estão em melhor situação. Recentemente um empreendedor perguntou-me se possuia algum conhecimento em utilizar o processo de coaching para casais. Mais que isso, já me perguntaram se Marketing Pessoal pode ser utilizado nas relações amorosas. Minha primeira resposta é não, não pode.

Pelo simples motivo que marketing é toda ação que gera uma possibilidade de venda e Marketing pessoal é toda ação (subentendida, toda ação de marketing) que gera uma possibilidade de sucesso da pessoa. Sendo assim a menos que você pretenda vender algo para sua esposa ou marido e ganhar algum dinheiro com isso, o Marketing Pessoal não irá ajudá-lo no relacionamento.

Entretanto, aprofundando-me um pouco mais na questão, pode-se utilizar algum princípio do Coaching e do Marketing Pessoal para se desenvolver idéias e ações que gerem um novo contexto para o casal. Não se trata de um princípio exclusivo dessas áreas. Para quem não está acostumado com o termo, coaching; pronuncia-se “kôotchin” (sic) e significa treinamento em inglês; é o processo de desenvolvimento de competências. Competência é a capacidade de agir, de realizar ações em direção a um objetivo, metas e desejos. Ele é desenvolvido primordialmente a partir de perguntas que possam gerar novas ações e novas soluções.

Neste processo focamos as ações que funcionam e no tema proposto vou escolher o amor da mãe pelos filhos como guia para alguns insights por ser infinitamente bem-sucedido na maioria dos casos. Isto é, em geral as crianças e suas mães possuem uma relação amorosa de extraordinário sucesso. Mesmo depois de adultos, a menos que tenham tido alguma experiência incomum, a maioria também amará sua mãe e sentirá sua falta quando esta se for. Lembro-me da entrevista de Danny Glover, parceiro de Mel Gibson no filme “Máquina Mortífera”,mostrada no programa “Inside The Actors Studio”: quando James Lipton, o apresentador, pergunta-lhe: – “O que ocorreu no dia em que conseguiu seu primeiro trabalho como ator ?”. Danny responde entrecortando as palavras: – “No dia em que consegui o papel… minha mãe faleceu em um acidente de carro. Desde então todo meu trabalho é um tributo a ela.”

Em meio a sua emocionante declaração questiona: – “Algum dia deixaremos de sentir saudades de nossas mães?”. E argumenta sem finalizar a frase: “Quando você é pequeno ela lhe ensina sobre seus deveres e suas responsabilidades…”. E surpreendentemente revela: – “Nós tivemos brigas inacreditáveis pois ambos tinham de estar certos! Mas, ela era minha jóia da alegria e me sinto especial por tê-la em minha vida pelo tempo em que a tive em minha vida.”

Poucas vezes vi um sucesso ser descrito de forma tão encantadora.

Entretanto, os casais quando brigam e ambos querem estar certos, isto gera na maioria das vezes mágoas e ressentimentos, não doces lembranças como as de Danny. Quando cobram responsabilidades mútuas não interpretam como uma prova de integridade mas um aborrecimento.

Onde está a diferença?

As noções de amor que nos chegam e que são consideradas parâmetros para os relacionamentos foram criadas na sua maioria por nossa cultura: livros, filmes, poesias, canções, outras pessoas e nossos pais. E de onde nossos pais e as outras pessoas tiraram suas noções de amor? É claro, dos livros que leram, das canções que ouviram, de outras pessoas e de seus próprios pais. Assim, perpetuamos algumas idéias do passado sem nunca pararmos para pensar se não há outra forma, algum outro caminho de se amar.

Questionando-se o exemplo do amor de mãe: qual é o objetivo? Certamente não é satisfazer a comoção que sente diante de seus filhos. Pois, mesmo sabendo que seus filhos vão chorar, a mãe irá vaciná-los para evitar as doenças. Dirá não ao doce fora de hora. Irá acordá-los cedo para irem à escola. Ensinará como escovar os dentes, como vestirem-se, como serem seres humanos. Na adolescência será rigorosa e mesmo diante de todas as falhas na tentativa de controlar seus filhos nessa fase, não irá desistir de fazê-lo. De dar-lhes os devidos avisos. De acompanhá-los nas dificuldades da passagem da vida infantil para a adulta. Irá sofrer com seus momentos de tristeza e alegrar-se com suas vitórias. Estará presente!

Qual o propósito de todas essas ações? Criar um novo ser humano.

Imagine se os propósitos da mãe fossem “ser feliz” e “não ter aborrecimentos”: quando os filhos começassem a chorar para não receber uma vacina, ela não a aplicaria, pois o choro de seus filhos a aborrece. Quando os filhos se recusassem a ir para a escola, ela também não os forçaria pois quer ser feliz. Se eles não quissessem revelar com quais pessoas andam e que locais frequentam, ela também não os repreenderia pois o importante é não ter aborrecimentos. Em outras palavras, o propósito “ser feliz” não é válido quando o assunto é amor. Curiosamente, o propósito: “criar um novo ser humano”, gera felicidade. Mas a felicidade é o resultado, não o propósito.

Ter um propósito é um dos princípios do Marketing Pessoal e do processo de coaching que pode ser perfeitamente aplicado aos relacionamentos.

Considere a seguinte idéia: em nossa cultura as pessoas se relacionam para alimentar a comoção que sentem na presença do ser amado. É uma armadilha. Se seu relacionamento depende do preenchimento dessa emoção, então é um bilhete premiado para o fracasso. Pelo simples motivo que nenhuma emoção, nenhuma experiência e nenhum sentimento duram indefinidamente. Todos têm um começo, um meio e um fim. Por isso que no ritual de casamento ninguém declara: “estarei com você enquanto o meu sentimento durar”. Quem criou o ritual sabia o que estava fazendo.

Então você deve abrir mão do sentimento? Não! Claro que não! Mas considere a possibilidade que você não sabe como gerá-lo. Sendo assim a maior parte das pessoas quando diz: “eu sinto amor por você”, na verdade quer dizer, “o amor me pegou”! Ela não fez nada. Aconteceu. Dizendo de um modo incomum: “a pessoa não sente o amor: é o amor que a sente”. Ela não teve poder sobre isso. E é por esta razão que quando ele acontece a pessoa se vê diante da tarefa de alimentá-lo. Pois se o perder tem a impressão de que perdeu o amor. Não ocorre para a maioria que esse sentimento possa vir a ser criado e neste caso é normal deixar de sentí-lo e depois recriá-lo, num ciclo de morte e vida da emoção. Mas, como fazer isso? Nenhum caminho é fácil, todos são difíceis.

Considere a ideia de que um relacionamento é um empreendimento, por menos sexy ou inspirador que isso transpareça à primeira vista.

Repetindo, no que diz respeito a um princípio do marketing pessoal e do coaching aplicável ao amor, o princípio é: o propósito. É ele que permite a você uma vez escolhida com liberdade a pessoa que irá amar criar algo em comum. Pelo que você estará junto à pessoa? Quanto mais fácil for o propósito, maior a chance de desilusão. Quanto mais elaborado, maior a possibilidade de sucesso. Por exemplo: se os propósitos forem “para criar os filhos”, “para constituir uma família” e “ser feliz” eles são fracos demais. O que você precisa para ter um filho? Olhe em volta e verá que a maioria dos lares em qualquer nível social possui filhos. E são uma família mesmo não sendo um modelo de família. Os propósitos exemplificados não geram parâmetros para suas ações.

Já se eles forem: criar um relacionamento amoroso entre um advogado e uma administradora de empresas e a partir dele uma família com alegria, riqueza, saúde e inspiração, bem aí a coisa muda de figura. Suas ações e falas estão gerando alegria? Quando conversa com seu par é este o propósito de sua fala? Ou é cobrá-lo por algo como, por exemplo, suprir essa sua emoção que se foi? Seja brutalmente honesto com a razão de cada uma de suas atitudes e verá que no fundo seu objetivo de tempos em tempos é recuperar o sentimento perdido. Mas, para recriá-lo, precisa de um contexto maior. Especificamente: das falas e ações em direção a um propósito e das conquistas a partir dele.

Partindo-se do propósito individual observe que não é tão difícil se amar um esportista de sucesso ou mesmo uma atriz de grande talento. Suas ações e falas têm um propósito muito claro e suas conquistas são plenamente observáveis: as vitórias e o oscar. Já para os demais a complexidade aumenta. Qual o propósito de um advogado? O que ele deseja? Quais suas conquistas? Qual o propósito de um arquiteto? De uma administradora de empresas? Pois nosso relacionamento com uma pessoa na verdade é um relaciomento com alguém que faz coisas ao longo do tempo.

Novamente falando de uma forma incomum: nos relacionamos a partir de suas agendas. Se você não se interessa pelo que seu par faz, terá problemas, pois não irá compreendê-lo. Irá sentir-se relacionado com alguém que tem um certo comportamento e que em geral o aborrece e não com a pessoa, com sua essência humana. Se sentirá em segundo plano e muito rapidamente ao invés de contribuir para que ele seja quem deseja ser, estará sendo quem o incomoda por reclamar de quem ele é e do que faz. Neste contexto estará sempre procurando por alguém que faça você sentir-se bem. E se não acontecer, tenta por um tempo e depois muda de relacionamento. Por fim, repete o ciclo ou desiste de relacionar-se.

O que é um propósito? O propósito é o motivo pelo qual você deseja fazer o que faz. Pode ser uma sequência de objetivos: “eu quero escalar o Everest”, “eu quero escalar o Aconcágua” etc. Ou pode ser contextual: “eu quero ser um alpinista”. Qualquer um pode entender esses propósitos.

Por esta razão a primeira pessoa por quem você deve interessar-se antes de envolver-se em um relacionamento é você mesmo. Quem você é? Qual o seu propósito? O que você faz hoje e o que pretende fazer no futuro? Se não souber para onde está indo, como irá querer que outra pessoa se envolva com você? Como irá esclarecer a ela suas responsabilidades e como divide seu tempo entre suas ações e qual o tempo que irá dedicar ao seu relacionamento? Principalmente, como irá envolver a pessoa amada em sua vida? Lembre-se que relacionamento é uma escolha e você deve responsabilizar-se por ela para não ficar reclamando que seu par não o entende. Você é tão claro assim? Se não é comece a sê-lo. Converse sobre seu futuro, o que você quer que ocorra nele. E principalmente: ouça a pessoa que está ao seu lado e minha sugestão é que faça isso em primeiro lugar: Qual é o propósito dela?

A partir daí alinhem os propósitos e criem um terceiro que seja inspirador para ambos. Não precisa abrir mão do seu, deve apenas alinhá-lo a esse novo. Que siginifica alinhar? Permitir que algo exista da forma como é e ter as ações por ele. Responsabilizar-se pela escolha.

Portanto, se souber o que quer e como envolver seu par nisso, criará uma possibilidade para que o relacionamento se desenvolva. Para ser compreendido e compreender. Irá gerar a possibilidade de aceitação. Ninguém pode aceitar alguém que não conhece. Revelar-se portanto é sua tarefa para que a aceitação ocorra. Se você não gosta muito de quem é ou do que faz, sugiro dedicar-se a um bom desenvolvimento pessoal primeiro antes de procurar por alguém. E se já está em um relacionamento, não tem problema: dedique-se a um bom desenvolvimento pessoal a partir de agora.

A aceitação é o princípio que permite o amor (sentimento) tornar a surgir. Sem aceitação é muito provável que seu relacionamento se desenrole como um conjunto de atividades sem sentido e sem emoção ou o que é pior: uma busca por ser feliz ou para que alguém o faça feliz, quando na verdade a felicidade é uma responsabilidade de cada um por si mesmo. Portanto, crie e comunique o seu propósito para que ele dirija o envolvimento de outras pessoas na sua vida. O envolvimento gera o conhecimento sobre quem é você e sobre quem é a pessoa com quem você está. O conhecimento possibilita a aceitação e esta por último um campo para que o amor aconteça a partir das experiências mútuas. Nas palavras de Joseph Campbell: “penso que o que buscamos não é um sentido para a vida, mas experiências que nos mostrem o enorme enlevo que é estarmos vivos”.

Marketing pessoal é o mais difícil que existe. Relacionamento é o empreendimento mais difícil que existe. Mas, como seres humanos adultos somos inspirados por projetos difíceis e rapidamente nos desinteressamos quando as coisas são fáceis. Portanto, nada melhor do que criar um propósito em seu relacionamento, comunicá-lo, agir em acordo com ele, alinhar as ações, envolver a pessoa amada e aceitá-la da forma como é e da forma como não é. Deste modo a possibilidade para que o amor aconteça será criada e o que você deve fazer quando o sentimento se for é voltar ao propósito e agir por ele. Novamente: é muito difícil e seres humanos adultos fazem coisas difíceis. Portanto, esqueça as ideias de que já nascemos prontos para o amor ou que todo mundo sabe como amar. Existe um trabalho a se desenvolver, faça-o. A recompensa não tem preço e leva um nome especial para você e seu par: “suas vidas”.

Silvio Celestino

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