Hipnose e Transracionalidade

A hipnose permeia a história da humanidade desde os primórdios – e é importante que se diga que a hipnose aqui, além da definição braidiana, refere-se a uma capacidade humana de experimentar algo além de sua sensorialidade. Traduzimos o mundo a medida em que o experimentamos através de nossos sentidos.

Aquilo que vemos, ouvimos, cheiramos, tateamos e degustamos nos causam impressões bastante peculiares.

Explicamos as coisas de acordo com essas representações internas, sob a influência da ordem universal das necessidades humanas – alimentação, sobrevivência e procriação – e a ordem social, com suas regras e rigores.

Penso, logo existo! A consciência de si mesmo, a racionalidade como sustentação da própria existência. Penso por quais determinações: pessoal, social, afetiva ou instintiva? Penso somente o que quero pensar? A hipnologia coloca uma lupa sobre estas questões e nos remete a uma reflexão muito mais ampla do potencial interior de cada indivíduo. O coloca em contato com algo real, porém, até certo ponto irracional. Lembro-me de um amigo economista cujo rigor de sua formação – por sua própria definição – o levava a equacionar a vida numa calculadora HP. Aos cinquenta anos, após sujeitar-se à hipnose, mudou seu paradigma: “tomei contato material com o meu inconsciente” – e acreditem, este era o modo para ele de tornar a experiência real.

Émilie Coué, baseado em sua experiência pessoal, observou que quando a vontade e a imaginação são antagônicas, a imaginação sempre vence, sem exceção. Que quando a imaginação e a vontade se harmonizam, uma é multiplicada pela outra. Formulou a Lei da Atenção Concentrada que dispõe que quando uma pessoa concentra a sua atenção numa ideia, esta se concretiza por si mesma. Um exemplo clássico para esta afirmação é o de sugerir que um sujeito caminhe no solo sobre uma prancha de trinta centímetros de largura por quinze metros de comprimento. Você seria capaz? E se essa prancha estivesse entre dois edifícios a trinta metros de altura? Logicamente não há motivo para que alguma pessoa não possa fazer isso e a diferença consiste no fato de o sujeito pensar que não pode, conforme preceitua Coué na Lei do Efeito Contrário. Diz que quando uma pessoa pensa que não pode fazer algo e então tenta, quanto mais pensa menos capaz fica de executa-lo.

Qual a influência da racionalidade sobre a vontade e a imaginação? Até que ponto estamos no controle? A ideia de uma mente subconsciente não é nova e tornou-se evidente que muitas idéias e ações do homem surgem de fontes das quais ele normalmente não tem consciência. Se o subconsciente está abaixo do nível da percepção consciente, pode (ou até que ponto) pertencer este à parte dos processos dos pensamentos humano?

Estudos experimentais através da heterohipnose demonstram a ação de uma instância que a racionalidade não alcança, em nível físico, mental e emocional. Por exemplo, é sugerido que uma moeda quente está sobre a palma da mão de um indivíduo que manifesta diferentes respostas: queimadura da derme no ponto de contato, medo e esquiva, manifestações de desconforto, etc. – estado revertido sob a mesma condição de transe. A maior contribuição deste experimento não se refere ao resultado propriamente dito, mas sim ao reconhecimento dos poderes latentes e atuantes na mente de cada pessoa, que extrapolam a compreensão pelos códigos e simbolismos sensoriais. Por estes mecanismos, fazemos e desfazemos um câncer, por exemplo.

Paulo Madjarof Filho

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