O carpinteiro patrão

Na reunião matinal que sucedeu as brigas durante todo o dia anterior onde quase não se produziu nada, o Carpinteiro, chamado por todas as ferramentas de Patrão, sentou-se e despejou a decisão que havia tomado após uma noite de insônia e reflexão.

Disse que um membro daquela equipe estava prejudicando os trabalhos e causando desacordo, portanto toda a equipe passava por essa fase de desarmonia que até então, por mais de cinquenta anos de trabalhos juntos, nunca tiveram e que esse membro seria demitido.

A sentença causou alvoroço, até mesmo a GROSA que não trabalhou no dia anterior, (para falar a verdade ela quase nunca era usada mesmo, pois existiam outras que faziam seu serviço muito melhor e mais rápido), chegou bem perto para se inteirar do que estava acontecendo.

O Líder colidiu bem forte sua mão contra a bancada onde era ensurdecedor os protestos e rumores, a RÉGUA traçava conversa paralela sussurrando que já sabia que isso iria acontecer, que já tinha avisado, que a culpa era de todos…O TRANSFERIDOR já estava até levando a conversa para outro ângulo, todos se assustaram e se puseram a ouvir o até então Maestro. Ele disse que só seria o carrasco, que fará tudo para tornar a equipe coesa novamente, que sente muito, que não vê outra saída, que gosta igualmente de todos, que precisa manter o prazo dos pedidos, que também está gasto pelo tempo, que sabe como cada um funciona, que entende que cada um tem a sua finalidade, mas, decidiu que deixará que a equipe descubra, quem não mais pertencerá ao quadro.

O silenciar geral só foi quebrado quando o Aprendiz, que também era ajudante e filho do Chefe, pronunciou sua lamúria, lacrimejando e gaguejando, disse que apesar de conviver no grupo apenas dois anos, já estava acostumado com todos ali e não suportaria a falta de ninguém. Num gesto de professor o Proprietário lhe disse o seguinte: “Em uma equipe sincronizada todos são importantes, tem sua função e fazem falta, porem ninguém é insubstituível”. Pronto a confusão agora era maior ainda, todos ouviram aquele ensinamento e a indagação era a única coisa que compartilhavam em comum. Assustados, só o QUADRO NEGRO teve coragem de expor: “Quer dizer que alem do colega ser expulso, também será substituído por um estranho?”.
Não é nada disso, explicou o Administrador, um de vocês irá substitui-lo!
Quer dizer que um de nós terá que acumular mais uma função? Indagou o ESMERIL, eu já tenho duas alem de desbastar eu também escovo!

Disposto a por um ponto final na confusão, o Mestre das madeiras pediu para não se preocuparem, pois como líder sempre soube escolher o indivíduo para cada função, Jamais usou o ALICATE como se fosse o MARTELO. Que nesses cinqüenta anos juntos provou que era bom, pois sempre fez a coisa certa e graças a isso e a colaboração de todos conseguiu realizar todos os seus sonhos inclusive os de consumo, perguntou se lembravam daqueles moveis coloniais que construíram juntos no final do ano passado e todos foram afirmativos, ai revelou que eram para seu novo sítio. Disse que tinha certeza absoluta que escolhera o substituto sabiamente, pois quando o chefe é verdadeiramente um líder ele sempre faz a coisa certa pensando em seus subordinados.

Não havia mais o que fazer a não ser continuar com o jogo do decidido Patrão, dispostas em mesa redonda, uma a uma começaram a se pronunciar na tentativa de prever quem seria substituído pelo Chefe. Todos se preocupavam em achar os adjetivos que qualificaria ou justificaria a demissão do colega.

O TRINCO acusou o CADEADO de ser muito fechado e introvertido, o CADEADO negou e disse que a LIXA era áspera demais e vivia arrumando atrito com tudo, a LIXA por sua vez optou pela BROCA porque ela se metia muito no trabalho dos outros, a BROCA disse que não era culpa dela ser assim, era a FURADEIRA que não largava de seu pé, a FURADEIRA acusou o PARAFUSO de viver enrolando, o PARAFUSO reclamou da CHAVE DE FENDA dizendo que ela mexe muito com a sua cabeça, a CHAVE DE FENDA acusou a TRENA e o METRO de ficarem medindo tudo achando que só eles são perfeitos, o METRO partindo para agressão disse que sabia que o MARTELO vivia dando golpes, o MARTELO disse ter ciúmes da LAPISEIRA, pois ela só andava no bolso do Patrão e a LAPISEIRA disse que a TÁBUA era muito chata, uma a uma foram se agredindo, se atacando, a reunião não tinha mais ares de dinâmica em grupo e sim um show de baixarias individualistas.

Foi quando o Carpinteiro pediu atenção e disse: “Eu entro todo dia aqui pela manhã e utilizo todos vocês em meus trabalhos, uso o melhor de cada um para cada atividade e juntos transformamos pedaços de madeiras em lindos móveis admirados por tantas pessoas. Eu acredito que todos temos defeitos e sabemos quais são, tanto que os apontamos, uns aos outros. Mas, temos muitos pontos positivos e acho que são neles que devemos concentrar nossas energias, em vez de gastá-las com incriminações que não vão nos ajudar em nada, afinal não queremos ser perfeitos, mas devemos ressaltar e usar nossas qualidades…”.

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