As crenças na sala de aula

Caros amigos, muito me agrada recebê-los mais uma vez nesta coluna. Em nosso último encontro, ao aprendermos sobre a empatia, vimos que, com a técnica do espelhamento, é possível cativar a classe e estabelecer rapport (contato) com os alunos.

Para este encontro, ficou prometido o tema “crenças e valores na sala de aula”.

A fim de facilitar a assimilação deste conteúdo, optei por separá-lo em dois textos, sendo que hoje falaremos somente sobre as crenças e, na próxima oportunidade, sobre os valores.

Este texto, portanto, discursará sobre o que são crenças e como elas influenciam nossos comportamentos. Com esta abordagem, espero deixar mais clara a importância de acreditarmos em nosso próprio potencial e na capacidade de nossos alunos. Enquanto estiver lendo o texto, procure refletir sobre como as novas ideias se incorporam ao seu cotidiano. Tenho certeza de que você alcançará uma compreensão mais profunda de seu papel no processo educativo. Tenha uma boa leitura!

Crenças

Conta uma lenda que estavam duas crianças patinando em um lago congelado. Era uma tarde nublada e fria, e as crianças brincavam sem preocupação.

De repente, o gelo se quebrou e uma das crianças caiu na água. A outra, vendo que seu amiguinho se afogava debaixo do gelo, pegou uma pedra e começou a golpear com todas as suas forças, conseguindo quebrar o gelo e salvar seu colega.

Quando os bombeiros chegaram e viram o que havia acontecido, perguntaram ao garoto:

– Como você conseguiu fazer isso? Será possível que você tenha quebrado o gelo com essa pedra e com suas mãos tão pequenas?

Nesse instante, apareceu um ancião, que disse:

– Eu sei como ele conseguiu!

– Como? – todos perguntaram.

O ancião respondeu:

– Não havia ninguém ao seu redor para lhe dizer que ele não seria capaz…

(texto recebido por e-mail, de autoria desconhecida).

O que são crenças?

“As crenças são generalizações que fazemos a nosso respeito, acerca de outras pessoas e do mundo ao nosso redor. Elas são os princípios que orientam nossas ações. Geralmente, pensamos nas crenças como ‘tudo ou nada’ e achamos que as coisas nas quais acreditamos são sempre verdadeiras” (O’Connor e Seymour, 1996, p. 105).

Se perguntássemos a um esportista: “Por que você treina tanto?”, sua resposta poderia ser: “Quero ser o melhor atleta de minha categoria e trazer uma medalha de ouro para o Brasil, nas Olimpíadas”. Por trás de sua resposta, há várias crenças: “acredito em meu potencial para ir às Olimpíadas”; “a determinação fará de mim um atleta melhor”; “se estiver devidamente preparado, terei condições de trazer uma medalha de ouro para o Brasil”, entre outras.

Observem que as crenças do atleta o movem de forma poderosa para uma direção certa. Não são a garantia absoluta do sucesso, mas geram uma força essencial para quem o quer alcançar. Segundo Robbins (2001, p. 65), as crenças são ordens dirigidas para o cérebro. “Quando acreditamos com convicção que alguma coisa é verdade, é como se mandássemos um comando para nosso cérebro, de como representar o que está ocorrendo”.

As crenças relacionam-se fortemente com os estados emocionais. A partir do momento em que acreditamos em algo, toda a nossa fisiologia muda a respeito daquilo, junto com nossas representações internas e comportamentos. Passamos a agir como se aquela informação fosse mesmo verdade e conseguimos, muitas vezes, alcançar objetivos inimagináveis.

Será que o garotinho da história lida no início deste texto teria conseguido quebrar o gelo e salvar seu amigo, se em algum momento duvidasse de sua capacidade? Ou, então, qual seria o nível de motivação do atleta de nosso exemplo, se não acreditasse em seu próprio potencial?

Por darem força e direção às nossas ações, as crenças precisam ser escolhidas com muito cuidado e devem ser constantemente examinadas. “Crenças que limitam suas ações e pensamentos podem ser tão devastadoras como as crenças cheias de recursos podem ser fortalecedoras” (Robbins, 2001, p. 65).

Muitos de vocês já devem ter ouvido falar no efeito placebo. “Pessoas a quem se diz que uma droga terá um certo efeito muitas vezes experimentarão esse efeito, mesmo quando recebem uma pílula inócua, sem propriedades ativas”. (Robbins, 2001, p. 67). Este é mais um exemplo de como as crenças afetam nossa interpretação da realidade, colocando em xeque muitas de nossas convicções.

Cultivamos crenças sobre nós mesmos e sobre outras pessoas; sobre o que é ou não possível de acontecer em nossas vidas e sobre nossa própria capacidade. Originam-se a partir de nossa educação, do exemplo de pessoas importantes, de traumas passados e de experiências repetidas (O’Connor e Seymour, 1995, p. 98).

É simples identificar crenças em conversas do cotidiano. Geralmente, são expressas verbalmente através das seguintes frases:

“Se eu fizer isso… aquilo vai acontecer”;
“Eu posso…” ou “Eu não posso…”
“Eu devo…” ou “Eu não devo…”
“Eu tenho que…” ou “Eu não tenho que…” (O’Connor e Seymour, 1995, p. 98).

Quer você acredite que pode, quer acredite que não pode fazer algo…
VOCÊ ESTÁ CERTO!

Na sala de aula…

Uma das disciplinas mais temidas pelos alunos do Ensino Médio é a FÍSICA. A crença de que se trata de uma matéria de difícil assimilação passa de pais para filhos, criando um bloqueio na mente dos estudantes e uma “pré-indisposição” para sua aprendizagem. Na verdade, os conceitos da Física ocorrem o tempo todo ao nosso redor e estão bastante ligados à nossa realidade. Quando ensinados de forma vivenciada e lúdica, são facilmente aprendidos por qualquer pessoa.

A Física é um bom exemplo de como crenças limitantes podem prejudicar nossa capacidade de aprendizagem. Ao atuar na sala de aula, o professor deve ter consciência de que transmitirá aos alunos, por meio de palavras e atitudes, crenças limitantes ou fortalecedoras: estas deverão ser difundidas, enquanto aquelas não poderão ser perpetuadas.

Compartilhemos, a seguir, algumas crenças úteis para serem adotadas na sala de aula.

– Não existem alunos resistentes, mas sim professores inflexíveis. Os alunos são capazes de aprender qualquer assunto, desde que ensinados da maneira correta. Se alguma vez você já disse que “fulano não é capaz de aprender tal coisa”, talvez esta seja a hora de você rever seus conceitos. É muito mais provável que você não dispusesse de ferramentas suficientes para ensinar o aluno naquela hora. Quiçá não quisesse assumir que não conhecia outra abordagem para aquele assunto. De qualquer forma, ao agir como se esta crença fosse verdadeira, você estará sempre buscando novos caminhos para aprimorar seus conhecimentos e terá, como professor, um progresso contínuo.

– Cada aluno possui sua própria maneira de aprender. Em qualquer grupo de alunos, encontramos uma minoria que não acompanha o ritmo de aprendizagem do restante da classe. Não se trata de estudantes incapazes: são, apenas, pessoas que aprendem de forma diferente. Esses estudantes precisam de outras abordagens para aprender aquele mesmo assunto.

Ao estudarmos as técnicas de PNL, observamos que cada aluno tem sua própria estratégia de aprendizagem. A princípio, isso não é nenhuma novidade, pois estamos cansados de saber que “cada aluno é único e merece um cuidado diferenciado dos demais”. No entanto, são poucos os professores que entram na sala preparados para ensinar um mesmo assunto com pelo menos duas estratégias diferentes. Quanto maior o número de abordagens, maiores as chances de ser compreendido por todos os alunos da classe. Cabe ao professor experimentar que tipo de estratégia funciona melhor com sua turma.

– Acredite na capacidade dos alunos. Se o professor iniciar a aula julgando que seus alunos não conseguirão entender o que tem para dizer, é muito provável que realmente não o consigam. Sinais não-verbais de desmotivação e desinteresse serão transmitidos de forma inconsciente à classe e será formada uma barreira entre o professor e os alunos. Lembre-se de ter nas mãos estratégias diferenciadas, para atingir o maior número de alunos que puder.

Eis um excerto extraído de O’Connor e Seymour (1995, p.98), que ilustra bem este tópico. “Em uma pesquisa, uma turma de crianças de idêntico QI foi dividida em dois grupos. Os professores foram avisados de que um dos grupos tinha um QI mais alto, e que, portanto, devia se sair melhor do que o outro. Embora a única diferença entre os dois grupos fosse a expectativa dos professores (uma crença), o grupo supostamente dotado de QI mais alto obteve melhores resultados em testes posteriores”.

– Acredite em sua própria capacidade. Afinal, você estudou e se preparou para estar ali, diante dos alunos. Com certeza, você tem informações muito valiosas para transmitir. Portanto, fale sobre as coisas que você sabe da melhor forma possível e confie em seu potencial didático.

Pelos mesmos motivos expostos acima (sinais não-verbais), se você iniciar a aula sem a devida segurança, os alunos irão perceber que algo está errado. Se não estiver preparado para falar, é preferível deixar o assunto para outro dia.

– Todo comportamento possui uma intenção positiva. Essa crença está fundamentada na seguinte pressuposição da PNL: “As pessoas fazem a melhor escolha que podem no momento”. Podemos, assim, tentar compreender o porquê de alguns comportamentos aparentemente inusitados de nossos alunos, como o ato de arremessar uma bolinha de papel na cabeça do colega!

A maioria das intenções positivas está, na verdade, em nível inconsciente. Necessidade de auto-afirmação, carência de carinho, desejo de se aproximar de um colega ou até mesmo vontade de ser notado pelo professor pode levar os alunos a adotarem comportamentos inadequados e até mesmo agressivos.

Se o professor conseguir identificar a intenção positiva daquele comportamento indesejado (seja através de uma conversa, da observação e/ou da reflexão), poderá oferecer ao aluno uma forma mais adequada de conseguir o mesmo objetivo.

Observe como o casal Andreas utilizou este princípio na educação de seus filhos:

“Quando nossos filhos eram crianças, entrei na sala de estar um dia e vi Mark, de três anos, batendo em Loren, que estava então com um ano. Como Mark estava batendo forte, intervim rapidamente para evitar que Loren se machucasse. ‘Não, Mark!’, disse, de maneira clara e firme, enquanto separava os dois. ‘Não quero que bata em Loren’. Ajoelhei-me ao lado de Mark e, mudando completamente o tom de voz, perguntei com delicadeza: ‘Mark, o que estava fazendo?’. ‘Quero que Loren fique longe dos meus blocos de madeira’, ele respondeu”.

“Era compreensível. Com apenas um ano de idade, Loren era bastante agitada e achava muito engraçado derrubar os blocos de madeira. ‘Parece uma boa idéia’. Concordei inteiramente com a intenção positiva de Mark. ‘Vamos ver se podemos colocar sua torre em lugar seguro. Quer que o ajude a colocar a torre em cima da mesa, para que Loren não possa alcançá-la?’. ‘Quero’. Mark achou que era uma boa idéia. ‘Assim está bem melhor! Agora você pode construir sua torre e ela estará bem segura!’” (Andreas, Steve e Connirae, 1993, pp. 97 e 98).

Neste texto, estudamos o que são crenças e sua importância em nossas vidas. Além disso, compartilhei com você os princípios mais importantes para um ensino eficaz e consistente.

Convido-o, caro professor, a refletir sobre estas e outras crenças que você cultiva. Espero que, a partir de agora, estes ensinamentos sirvam como princípios orientadores para suas ações nas aulas. Em nosso próximo encontro, falaremos sobre os valores na sala de aula. Até mais!

Referências Bibliográficas

– ANDREAS, Steve e Connirae. A Essência da Mente. São Paulo: Summus, 1993.
– BERNARDES, Sirlei. Acorda Professor – PNL na Arte de Educar. Campinas: Komedi, 2003.
– CAPRIO, Frank S.; BERGER, Joseph R. Ajuda-te pela Auto-Hipnose. São Paulo: Papelivros, s.d.
– DILTS, Robert B. A estratégia da genialidade, vol. I. São Paulo: Summus, 1998.
– GRINDER, John; BANDLER, Richard. Atravessando: passagens em psicoterapia. São Paulo: Summus, 1984.
– O’CONNOR, Joseph. Manual de Programação Neurolingüística. Rio de Janeiro: Qualitymark: 2004.
– O’CONNOR, Joseph; SEYMOUR, John. Treinando com a PNL. São Paulo: Summus, 1996.
– PILETTI, Nelson. Psicologia Educacional. São Paulo: Ática, 2004.
– ROBBINS, Anthony. Poder sem Limites. São Paulo: Best Seller, 2001.
– WEIL, Pierre; TOMPAKOW, Roland. O Corpo Fala. Petrópolis: Vozes, 2002.
– WEISINGER, Hendrie. Inteligência Emocional no Trabalho. Rio de Janeiro: Objetiva, 1997.

Ricardo Luiz Marcello

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