Certeza de quê?

“A certeza é fatal. O que me encanta é a incerteza. A neblina torna as coisas maravilhosas.” (Oscar Wilde)

Eu gosto bastante desta frase do Oscar Wilde que se diz encantado pela incerteza. Só que acho que faz mais sentido, pelo menos no Brasil, a frase de um outro cara chamado Jean Massilon que diz o seguinte: “A incerteza dos acontecimentos, sempre foi mais difícil suportar do que o próprio acontecimento”

Mas de quais incertezas estamos falando, hein? Certeza de quê?

Bom, eu queria começar este artigo contando uma história sobre algo que aconteceu comigo faz mais ou menos um mês ou menos. Estava no prédio de um conhecido meu e comecei a conversar com a recepcionista:

_ “Não tinha uma outra menina que trabalhava aqui?” – perguntei.

_ “É mais ela não está mais aqui.”

_ “Por quê? Ela foi mandada embora, aconteceu alguma coisa?”

_ “Não ela se mudou. Uma pessoa daqui do mesmo prédio contratou ela.”

Achei a novidade super legal, pois aquela moça não estava mais na recepção e sim em uma empresa agora. A recepcionista, porém, discordou de mim e disse: “É, não tão legal assim… Porque imagina! Ela deixou este trabalho estável, que tem décimo terceiro, fundo de garantia, que é registrado, é CLT…” (e blá, blá, blá) “… para uma coisa completamente incerta! Ela foi trabalhar sem registro, em algo que ela gosta, mas não sei, viu? Porque daqui a dois meses a gente já vai receber o 13º e lá eu não sei se ela vai receber e ela fez uma besteira…”

Este comentário ficou na minha cabeça e agora eu te pergunto: o que você prefere? Será que o que te move é aquele algo mais certo, estável, ou é o mergulhar na incerteza de um trabalho que simplesmente apareceu, para o qual a paixão te levou? Você prefere a incerteza de um momento, que não te permite saber o que vai acontecer depois, prefere optar pela incerteza de um passeio para um lugar desconhecido ou aquilo que é para sempre?

Aliás, será que existe algo certo? Será que dá pra gente falar que a gente gosta do que é certo? O amor, a vida, o carro que você tem, o dinheiro que você ganha, o seu trabalho, o seu esporte… Será que alguma dessas coisas é para sempre?

Eu tenho mais do que certeza absoluta de que não. Qualquer amor um dia acaba, ou porque morre um ou porque o outro o deixa.  A nossa vida mesmo, quanto tempo dura? Uns 100, 105, 130 anos? Com carros é a mesma coisa… Um esportista, por quanto tempo pode fazer aquilo que ele faz? Talvez, jogarmos na incerteza da vida nos trará um resultado muito mais certo do que se ficarmos atrás do que parece certo, imutável e estável.

Bom, deixe-me contar a visão que eu tenho do que é certo, incerto, estável e tudo o mais. Eu sempre considerei meu trabalho como algo incerto, utilizando a metáfora do trapezista para exemplificar, mas sobre o meu trabalho falarei daqui a pouco…

Para falar desta história do trapezista, imagine-se entrando em um circo… Você olha para cima e vê aquele artista andando na corda bamba. Ele tem um bastão, o qual segura firmemente, e começa a por um pé após o outro na corda… Começa lentamente a ir para frente, a corda balança de um lado e ele dança para outro… E nessa dança, ele vai andando na corda bamba até chegar ao outro lado.

Pergunto-lhe: quem é mais estável? O artista de circo que está nesta corda bamba, ou você que olha para cima e o vê do chão?

Não tenho dúvidas de sua resposta será que é você o mais estável, olhando para cima. Só que a resposta correta é exatamente o contrário. Por ele estar na corda bamba, por ele saber que a qualquer momento poderá cair, o trapezista não vai parar de olhar para o lado, não vai parar de importar-se com onde colocar o pé; ele vai pensar em cada movimento e, a cada segundo que passa, ficará ainda mais concentrado em seu presente, vivendo aquele momento. Já você, que entra no circo e olha para cima, por ficar pensando que nada poderá te acontecer, relaxa… Até o momento em que chega o cara do carrinho de pipoca e passa por cima de você.

Parece uma história boba, mas é exatamente a forma como eu vejo o meu trabalho. A partir disso, acho que podemos discutir um pouquinho mais sobre certezas e incertezas.

Desde os meus 22/23 anos, eu trabalho por conta própria. Com essa idade, deixei uma multinacional, indo para outra grande empresa, a qual deixei também para começar a trabalhar por conta. Eu abri o meu próprio negócio e, a partir daí, as coisas nunca mais tiveram aquela certeza que tinham quando eu estava nas empresas anteriores.

Eu sempre acordei desempregado e sempre fui dormir sem saber o que aconteceria no dia seguinte. Eu sabia que meu futuro era incerto, porque não dependia de um chefe para ao final do mês ter meu salário depositado. Eu não dependia mais de uma organização, de uma instituição que me desse estabilidade; dependia só de mim, das minhas coisas. Por saber que meu futuro era incerto, eu ficava como aquele artista da corda bamba, que fica o tempo todo olhando de um lado para o outro: repensando, recriando, fazendo diferente, mas nunca de braços cruzados para o carrinho de pipoca não passar por cima de mim.

Comecei, então, a sacar que, quando você mergulha no incerto, fica muito mais seguro do que quando pensa que está fazendo algo certo e imutável.

Não quero ficar aqui dando conselhos a você (pois quem sou eu para dar conselhos), mas parece que quando se vive provando o diferente, fazendo coisas que nunca foram feitas antes, mergulhando nas incertezas da vida, isso dá um sabor diferente à nossa vida. Parece que tudo fica mais gostoso, a vida mais prazerosa… Ainda mais em um momento como o que a gente vive hoje no Brasil.

Aproveitando o assunto, nesta atual situação de crise econômica, com empresas fechando, instituições constantemente revendo seus processos, faço a seguinte pergunta a você: quem é que vai ficar para contar história? Você acha que é aquele cara que sempre faz a mesma coisa, aquele que sempre fica esperando pela segurança do “normal”, ou aquele que cria, que se joga ao incerto, aquele que faz coisas inesperadas? Eu não tenho dúvidas: fazer algo diferente, mergulhar no incerto, mesmo que não seja na totalidade do seu dia, mas provar o que não foi provado ainda, dá muito mais sabor a você e faz os outros te enxergarem também como alguém diferente. Às vezes, é essa diferença, o novo, o inusitado, que vai realmente falar mais alto durante uma crise econômica.

Por fim, queria deixar aqui três dicas simples para que possamos aprender a viver com as incertezas da vida (mesmo porque não tem como viver esperando que tudo seja certo e seguro sempre). A vida nos dará o incerto! Ninguém acorda cedinho, faz uma check-list e, ao final do dia, ao conferi-la, percebe que tudo aconteceu de acordo com o que foi listado. Você pode se planejar do jeito que for; a vida é improvisada! Ela não planeja o que vai te dar; simplesmente dá pra você.

Bom, vamos às dicas:

1.  Ouse quando o risco for pequeno: por exemplo, se você vai tomar um suco ou vai jantar, qual risco pode te trazer pedir um suco de mamão com caju? Qual o risco de optar por um prato que você nunca comeu antes nada vida, tipo espinafre com queijo ou com arroz? Perceba que este risco é calculado. No máximo, o que vai acontecer é você dizer que não gostou da comida e ponto. Então, comece a ousar com coisas pequenas, pedindo um sorvete que nunca pediu, tomando um suco que nunca experimentou, cantando no karaokê da festa do seu sobrinho… Ouse, arrisque-se! Jogue-se à incerteza do que você não sabe o que vai acontecer para provar o sabor de fazer algo diferente. Isso vai te levando a ousadias cada vez maiores.

2. Esteja atento aos presentes que a vida te dá quando você se arrisca: às vezes, você resolve fazer uma coisa, como no exemplo do karaokê, e amplia isso… resolve dançar! Você nunca dançou na vida, mas resolve que vai fazer isso hoje, ou na festa de um amigo, ou um baile, sei lá. Você se joga ao desconhecido e começa a ver que, depois de um tempo, acabou criando algo diferente para sua vida. Podem ser novos amigos, uma namorada diferente, enfim! Então, comece a ficar atento aos presentes que a vida te dá quando você se arrisca, porque passa a ser mais divertido ousar.

3. Esta terceira dica vai especialmente para você que é líder, que possui um grupo: valorize as ideias diferentes dos seus subordinados, dos seus liderados. Dê um presente, um chocolate, uma comissão, um aumento, um tapinha nas costas, qualquer coisa, mas valorize, para tentar desconstruir o que a escola fez com a gente. A escola nos coloca em um padrão e nos ensina que o legal é ser igual. Por isso vestimos um uniforme na escola, pois assim, podemos dizer que todos são iguais. Só que, quando você sai da escola, você vê que nem todos são iguais… Na verdade, não tem um igual ao outro! As pessoas são diferentes, porém aprendemos desde pequenos que temos que ser iguais, não ousar, não mergulhar nossos pensamentos nas incertezas. A escola nos ensina a copiar. Quando você aprende matemática, por exemplo, está lá na lousa a fórmula, o jeito como se deve fazer as contas, e você copia… Copia e não aprende a pensar. Chega na hora da prova, o que acontece? Simplesmente, precisa lembrar aquilo que não aprendeu. É como se tivéssemos que regurgitar o que nos apresentaram como único. Não existe um processo de maturar, criar, processar, reinventar… Infelizmente, com este sistema escolar de hoje, aprendemos apenas a copiar (ctrl c + ctrl v). Portanto, você que é líder, valorize quando seus liderados fizerem algo diferente, porque, de uma forma ou de outra, você dará motivação para que eles sejam diferentes e pensem de forma diferente.

Perguntinha rápida: por que saber viver com incertezas é melhor? A resposta é tão simples… Porque quando a gente aprende a viver com as incertezas da vida, a gente aprende a viver de verdade e sem medo.

Vou contar uma historinha da qual eu gosto bastante para ilustrar isso. Quando eu jogava videogames, sempre gostei das coisas simples, como jogos de corridas, lutinhas, jogos de aventura, etc. Ao começar a jogar, note isso, você tem 5 vidas. E quando se tem 5 vidas, sabe o que você faz? Tudo! Pula, agacha, dá tiros, tenta fazer um monte de coisas com muito mais liberdade e vontade do que quando você tem uma única vida. Pois é, quando você olha para aquela barrinha de vida e não tem nenhuma extra, você fica com um medo, mas um medo… e passa a jogar de forma totalmente diferente, porque sabe que se perder aquela vida, já era.

O que isso tem a ver com incertezas? Tudo a ver, porque quando você aprende a transformar as incertezas, consegue transformar um novo em uma nova oportunidade, é como se você tivesse uma vidinha extra ali na barra. É como se olhasse para as suas vidas e tivessem várias outras chances, porque você se arrisca mais, você faz diferente e não liga mais para isso. Isso por saber que se qualquer coisa der errado, você sabe arriscar, sabe viver com as incertezas.

É mais ou menos assim: a pessoa que passou a vida inteira em um regime CLT, está o tempo todo presa nesta incerteza do que pode acontecer, mesmo tendo a segurança do regime de trabalho. Já a pessoa que viveu o tempo todo na incerteza da vida, fazendo coisas por si só, ajudando os outros, testando, fazendo e desfazendo, quando essa mesma pessoa trabalha em um regime CLT, está tranquila, ousa, diverte-se. Ela sabe que se qualquer coisa der errado, ela ainda tem toda a bagagem da vida com as incertezas, das coisas que não se prevê.

Bom, o objetivo deste artigo não é falar pra você parar de trabalhar da forma como você trabalha. Não é isso e nem nada contra o regime CLT. Eu mesmo já trabalhei muito assim. Mas o que eu sou a favor é que a gente aprenda a sair do padrão, aprenda a fazer coisas na vida que não sejam engessadas, fugindo do normal e do trivial. A vida dessa forma fica muito mais legal e, por consequência, aconteça o que acontecer, estaremos prontos para viver na incerteza.

Atire-se às incertezas e saboreie o gostoso, o prazer do novo, do nunca feito, nunca provado. Acho que essa sim é a vida de verdade, quando a gente conhece e faz algo que nunca imaginou que poderia conhecer e fazer.

Rafael Baltresca – Hipnólogo e palestrante de automotivação, sucesso, liderança e protagonismo. www.RafaelBaltresca.com.br / comunica@rafaelbaltresca.com.br

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